Estilo de Vida,Reflexão

Vida sem plástico x Vida real

VIDA SEM PLÁSTICO E VIDA REAL.

Eu tento diariamente e o tempo todo produzir o menor lixo possível e consumir o menos que posso de plástico. Vocês sabem.

São inúmeras formas de fazer isso: fazendo compra a granel, carregando a própria ecobag, preferindo alimentos saudáveis e naturais sem embalagem, usando copo retrátil e canudo inox, deixando na bolsa meus próprios talheres, recusando produtos com muito plástico, preferindo aqueles que são vendidos em alumínio ou vidro e que entram mais na lógica da reciclagem ou do reuso, evitando pegar amostras grátis que não servem pra nada, tendo a minha própria composteira, usando bucha vegetal, fazendo meus próprios produtos de beleza ou de higiene pessoal, comprando apenas cotonetinhos feitos de papel e, ao invés de algodão com demaquilante, usar panos antigos… enfim, tanta coisa que faço e tento fazer todo santo dia…

Só que eu precisava falar da vida real. Não é sempre que consigo gerar pouco lixo. Não é sempre que estou 100% preparada. Não é sempre que o mundo me diz: dá para viver nesse ritmo e dessa maneira como você quer 100% do tempo. Não, por enquanto, não dá. O mundo não está preparado pra isso. E eu não tenho controle do mundo.

Um dia desses ai no Rio, fui almoçar com uma amiga num restaurante saudável e, na hora de pedir um bolo para a sobremesa, veio um prato de porcelana, uma colher de metal, o bolo e, embaixo do bolo, um plástico transparente, que não vi nenhuma função prática nele, a não ser a da estética. Me senti mal? Me senti. Mas isso tava no meu controle? Não estava. Eu pedi o bolo que estava numa prateleira pronto a ser cortado e ele veio assim… O que eu posso fazer neste momento? Nada. Devolver o plástico ou recusá-lo, só implicaria vê-lo sendo jogado ao lixo, eu consumindo o bolo ou não. Eu tive que consumir o bolo assim mesmo, com ele vindo com um plástico sem função embaixo… A única coisa que pensei foi mandar uma mensagem para a empresa para alertá-los para pararem de fazer isso. Apenas. Tem coisas que não temos controle. Tem coisas que não sabemos como vai ser.

Ah, Pati, mas o que você vê, você pode controlar, não?! Em partes. E ai que eu trago a questão da vida real. Às vezes, simplesmente, não estamos preparados, ou estamos com muita pressa e não temos muita escolha. Quando eu posso carregar minhas coisas, quando eu posso optar por uma coisa, ótimo, perfeito. Mas às vezes não dá. Eu não posso privar de me alimentar ou de consumir algo na rua, por causa da embalagem. Infelizmente. Esse dia da foto, por exemplo, eu andei de bike até a praia e estava com um copinho de 300mL na bolsa, pedi um açaí e o cara só vendia tamanhos acima de 300mL (e eu queria comer 500mL, eu precisava me refrescar e de energia para a volta), então, ele já me entregou assim, cheio de plástico, já que todo o sistema de venda dele era baseado no plástico. Não o julgo. Me colocando na pele dele, como ele vai vender algo na praia que seja de outra maneira? Tem alternativas, tem, mas não é prático, fácil, barato… As coisas estão evoluindo aos poucos e quem sabe ele um dia não precise vender nada mais assim e eu não precise comprar nada mais assim…

Sabe, tiveram momentos nos últimos anos que já fiquei chateada comigo mesma por estar fazendo isso. Consumir algo na rua assim, que se descarta em 15min. Hoje compreendo que o que está no meu alcance, eu faço. E o que eu não posso, está tudo bem. O mundo está todo ainda do avesso e o que eu faço na maior parte do tempo é o que importa. Não posso julgar o meu eu (a gente se julga tanto sempre, né?) por um ou outro fato, sendo que eu faço esforços gigantes e diários que vão na direção contrária.

A vida real é que esse dia eu queria comer um açaí na praia. E teve que ser com plástico descartável mesmo, e ficou tudo bem. Tá tudo bem.